A incrível história do carro elétrico produzido na Bolívia

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O mini veículo elétrico produzido na Bolívia tem capacidade para três pessoas, alcança até 60 km/h e tem autonomia para percorrer 70 quilômetros. Feito para uso urbano, a bateria do veículo demora de 6 a 7 horas para carregar. O valor de venda será de cerca de 5 mil dólares. A fábrica da Quantum, responsável pela criação de carros elétricos está situada em Llajta, Cochabamba, e já lançou suas primeiras unidades. “Pedimos à população que adquira e apoie a indústria boliviana, que é um orgulho”, afirmou Evo Morales. A produção do carro elétrico na Bolívia é uma aula de desenvolvimento econômico, especialmente na sua fase inicial. Mostra que as condições locais importam muito, e que não existe uma fórmula magica. O fundamental é ter ambição e sempre buscar o aprendizado tecnológico. A boliviana Quantum começou como uma oficina metal-mecânica, fabricando máquinas e equipamentos para construção e mineração, e que importava o que fosse necessário, como motores elétricos, rolamentos e cabos de aço.

“Começamos a fabricar mini caminhões elétricos para mineração e vimos que a logica dos carros elétricos era a mesma: um motor, um controlador e baterias, e percebemos que também poderíamos fabricar carros porque a mecânica é simples”, disse o gerente-geral. Depois de muito pesquisar a respeito, a Quantum mirou os carros supercompactos. Era uma resposta às exigências do mercado urbano local, onde predominam ruas esburacadas, poluição e distâncias relativamente curtas.

O primeiro passo foi importar um carro chinês, desmonta-lo, ver seus componentes e sua aplicabilidade na Bolívia, bem como fornecedores locais, que nesta época rechaçaram o projeto porque os moldes para as autopeças custavam muito caro. Na etapa seguinte, obtiveram a licença dos moldes de um produtor chinês, por custo baixo, e buscaram no exterior provedores de motores, controladores, baterias, telas, pneus, aros e outros componentes. Segundo o gerente-geral, o sonho de fabricar um carro elétrico não teria ocorrido sem a participação de um engenheiro que contribuiu com o conhecimento adquirido na General Motors Venezuela. Dois anos foram necessários para que o carro saísse do papel e tomasse as ruas.

Por enquanto, apenas 40% dos componentes sمo nacionais. Na fلbrica sمo feitos o chassi, os suportes, os componentes do eixo dianteiro, a estrutura de aço, os assentos, a montagem e a pintura. A intenção, contudo, é integrar mais fornecedores nacionais ao projeto. Engenharia reversa, licenciamento e adaptação da tecnologia às condições locais, atração de mão-de-obra especializada, encadeamentos com fornecedores locais. Clássicas características de um processo inicial de desenvolvimento tecnológico, à la Toyota e Hyundai.Porém, o pior esta por vir. Produzir componentes complexos exigirل maior envolvimento do Estado, com baixo histórico desenvolvimentista. Se superar as limitações técnicas e avançar no domínio tecnológico, gerara resistências externas, como no caso chinês.

Pelo menos a Bolívia entendeu a importância do aprendizado tecnológico. E tem ambição. Com reservas de lítio inigualáveis, pretende produzir as baterias, o que nem a potência automobilística alemã vem conseguindo. A Bolívia tem pouco mais da metade das reservas mundiais provadas de lítio, de acordo com o instituto americano Geological Survey. Além disso, as jazidas são de fácil acesso e razoavelmente rasas, o que facilita em muito sua extração, e muito próximas do oceano Pacifico, não mais que 50 a 80 km de distância em linha reta. Mas o pais não possui fronteiras marítimas. Evo Morales sabe também que o futuro do carro elétrico, tao discutido e perseguido por todos os fabricantes de carro do mundo, reside justamente no oeste de seu pais, mais precisamente na região conhecida como Salar Uyuni, a maior planície de sal do planeta. Um imenso deserto, com cerca de 12.000 km² de área no Altiplano boliviano, com solo composto de uma mistura de salmoura e barro lacustre. Abrange dois estados e faz divisa com Chile e Peru a uma altitude média de 3.600 m. Dali praticamente brotam potássio, boro, magnésio e, o mais importante ultimamente, o lítio. Em sua maioria as jazidas estão a apenas dois a dez metros do nível do solo e muitas chegam a ter 120 metros de profundidade

Fonte: Paulo Gala